A música é a coisa mais maravilhosa do mundo! Não consigo definir em outras palavras o que sinto por ela, é como se ela fosse uma pessoa, embora saiba que não, eu sinto por ela o que sinto por alguém, ela se torna tão presente e tão imprescindível para mim hoje, como a luz, o calor, o próprio ar.

Nas palavras de Nietszche “sem música  a vida seria um erro” só encontro verdade, mas não quero apenas citar, quero fazer minha própria apologia. Você já pensou em passar um dia inteiro sem música? Isto é, sem ouvir nenhuma música, sem pensar nem lembrar de nenhuma, sem assoviar o descompromisso de uma caminhada num silencioso bosque, sem ouvir pássaros comemorando a alvorada… É completamente impossível. A natureza está repleta de música, o próprio silêncio quando se desorganiza em ventos soprados e passos pisados no solo torna-se música. Precisamos estar aptos a percebê-la, e temos o dever de preservá-la.

A música, às vezes, assemelha-se tanto a uma pessoa, que quase podemos conversar com ela, e esta relação, quando acontece, é algo tão estranho quanto natural, mas com certeza positiva, a possibilidade de perguntar à própria música se ela gosta do que está produzindo, se é agradável o que se ouve a partir daí. No entanto, a música não tem outras características de pessoa, mas de sistema. Podemos dizer que um sistema perfeito é onde temos um modo de entrada, um modo de funcionamento e um objetivo, logo, se considerarmos os instrumentos/voz como modo de entrada, as regras e referências musicais como modo de funcionamento, e a expressão de alguma ideia como objetivo, então temos aqui um exemplo de sistema perfeito.

Quero destacar e falar um pouco sobre a última fase deste sistema, a expressão. A música deve traduzir alguma coisa, seja uma ideia nova ou velha, um protesto, uma comemoração, uma lembrança, uma esperança, qualquer coisa que se possa pensar, e que, obviamente, faça algum sentido, e aqui encontramos os maiores problemas na chamada “música contemporânea”. Enquanto você lê este texto, pense comigo:

  1. Quantas músicas você já ouviu hoje? Você consegue lembrar ou estimar?
  2. Das que você lembra, quantas traduzem realmente alguma ideia?
  3. Das que traduzem alguma ideia, quantas traduzem uma ideia que faz sentido?

 

Aí, nesta hora, alguém sempre pergunta “porque tudo precisa fazer sentido? – tanta coisa na vida não faz sentido, nem por isso podemos nos livrarmos delas…”. Sim, amigos, temos coisas na vida que não fazem sentido, mas não considero algo positivo nivelarmos as coisas que fazem ou podem fazer sentido pelas que não fazem. Mais inteligente é encontrar o sentido de tudo; infelizmente, uma geração nos ensinou que é desnecessário, improdutivo, cansativo, e tantas outras coisas negativas, que acabamos acreditando, e deixando com que coisas totalmente infundadas nos governassem, nos impusessem seus pensamentos e ideias sem base.

Prossigo, então, da ideia de que tudo deve fazer algum sentido, e aqui, devemos dar atenção especial ao conjunto da obra, pois a música não é composta apenas pela letra, embora esta seja parte importantíssima na compreensão do sentido da ideia original, e na tradução da expressão do autor ou daquele que executa a obra. Quanto à letra da música, não há regra que especifique um tipo que seja aprovável, e outro reprovável, desde que traduza verdade.

Há quem diga que certos estilos musicais nos quais se utiliza poucos instrumentos não podem ser considerados música, por se tratarem de “montagens sonoras”, onde não há a participação, nem pensamento ou sentimento de um músico por trás. Concordo que a participação de um músico torna a obra muito mais rica, ainda que certas obras possam ser executadas com um único instrumentista sem deixar de ter todo o brilho e fundamento a que se propõe, mas nem por isso desclassificamos gêneros como eletrônico, funk, rap, etc, do cânon musical, pois são, sim, uma expressão sonora do meio de onde se originam. Já outros estilos, como o clássico, pedem a participação de um grande número de músicos, em cujas peças a falta de instrumentos/instrumentistas compromete o resultado final, a menos que o arranjo seja adaptado para um número menor de músicos, talvez, afastando a obra final do estilo e da ideia original. Independente do estilo, gênero, origem, o fato é que há uma grande virtude, e incomum, em conseguir manter uma ideia original.
Há tempos incomodo no tocante a este assunto, sobre querer dizer alguma coisa, e isto refere-se também à música que acompanha a letra. Considero, e assim ensino aos que tenho oportunidade, que na música existem 3 instâncias de entendimento, quais sejam: regras, referências, e pontos de vista, os quais quero explanar ainda em outro texto, mas o que posso dizer por hora é que não se pode basear um diálogo em um idioma que não possa ser compreendido, ou ainda, em nenhum idioma. Se quero falar com um jovem, devo usar palavras que este possa compreender, se quero falar com um estrangeiro, devo falar no seu idioma nativo, ou outro que possa ser compreendido por ambas as partes. Assim, se quero traduzir alguma ideia utilizando linguagem musical, devo usar meios que possam ser compreendidos, a fim de evitar cacofonias, ou ainda ou empobrecimento do arranjo, o que torna a música desinteressante e sem graça, aproximando-a do desagradável, a música não merece isto, temos a missão de preservar a música palatável e digerível, como sendo um bom alimento para a alma, e sem o qual não podemos viver.

Deixe um comentário